Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.03.16

a desilusão da noite


quando o corpo cessa de sonhar


debaixo do alpendre os ossos sobejados das tempestades do silêncio


um fio de sono


refugia-se na madrugada


a insónia partiu sem deixar rasto


fugiu das minhas pálpebras


enquanto a solidão brincava no mar


e um barco


e um barco enferrujado atrapalha-se com os meus frágeis braços de porcelana


tenho medo da chuva clandestina


sem morada para aportar


tenho medo da morte que semeia a dor


que semeia o sofrimento


e a escuridão entra no meu peito


sinto o meu coração em pequenas fatias de cansaço


apetecia-me escrever-te


mas deixei de ter palavras para ti


em tempos tinha o teu rosto aprisionado num caderno


mas com a idade


esqueci-me dele


do caderno


e esta ausência viagem permanece sem destino


que só a desilusão da noite


sabe desenhar na areia húmida dos teus seios


o desejo sem navegar em ti


o esquecimento dos teus lábios saqueando a cidade


navego em ti como um sonâmbulo arbusto do teu jardim


e a noite me leva para o infinito


o grito


o sorriso das serpentes nas amarras do beijo


o triste sono sobrevoando os lençóis da alegria


amanhã estarei aqui sentado?


amanhã estarei aqui sentado a folhear o caderno


onde se encontra aprisionado o teu rosto?


amanhã haverá tempestades de silêncio?


(mas com a idade


esqueci-me dele


do caderno


e esta ausência viagem permanece sem destino


que só a desilusão da noite


sabe desenhar na areia húmida dos teus seios)


amanhã?


 


Francisco Luís Fontinha


quarta-feira, 30 de Março de 2016


29.03.16

as palavras morrem dentro de mim


como carcaças em vozes famintas


saboreando o vento da noite


quando a tempestade se despede da cidade


o sem-abrigo lamenta a sua sorte


e eu confesso-me culpado


porque ajudei a matar as palavras…


… as palavras que morrem dentro de mim


 


Francisco Luís Fontinha


terça-feira, 29 de Março de 2016


27.03.16

a destruição da alma


na abóboda silenciosa da manhã


um suspiro


a ausência do teu corpo


neste manchado lençol de prata


a ausência do teu corpo


neste imensurável destino menino


a sinfonia da saudade


encastrada nos ossos da alvorada


sinto-me um cadáver inventado pelo sonho


sussurro-te as palavras mágicas da sombra


sussurro-te as palavras mágicas do Adeus


e desapareço na ténue lentidão do sorriso


amo-te destruição da alma


conflito íngreme da solidão


estou só


muito só


que nem tempo tenho para abraçar os barcos em regresso


que trazem promessas


riquezas


brincadeiras de criança


a bandeira do amanhecer


hasteada nos teus braços


a insónia amestrada no palco do circo


o frágil miúdo


inacabado


ausente


e apaixonado pela cidade


inventei amores


inventei desamores


inventei milhões de iões


beijando electrões


inacessível inculto dos comboios da noite


vou com o circo


amo o circo


e as montanhas de Lisboa


amo o circo


e as montanhas de Luanda


barcos


o engate do miúdo numa noite de copos


invade-me o sono


o silêncio suor na penumbra palavra em destruição


não tenho ossos


sonhos


noite


não tenho nada


meu amor


nada


 


 


Francisco Luís Fontinha


domingo, 27 de Março de 2016


26.03.16

(com amor para a minha mãe um feliz aniversário)


 


amo os meus livros


e os teus olhos de madrugada mimada


amo a vida construída de janelas


e de portas de entrada


amo o teu corpo camuflado pelas ervas daninhas do amanhecer


amo as palavras de escrever


e os versos de chorar


amo os barcos


os rochedos vestidos de barcos


amo o mar


e as planícies do sofrimento


amo o vento


que não quer regressar


amo os meus livros


e os teus olhos


e os livros dos teus olhos


e os olhos dos teus lábios


amo


amo sem ser amado


pelas palavras


e pelos teus olhos de madrugada mimada


 


Francisco Luís Fontinha


sábado, 26 de Março de 2016


25.03.16

a felugem do corpo


no alfabeto secreto da paixão


as múltiplas palavras ensanguentadas


no deserto coração


as madrugadas invisíveis


estas que o são


e não regressam à minha mão


nunca mais


a felugem do corpo


descendo as ruas íngremes da cidade


o feitio estranho da cegonha vaidade


quando a saudade


poisa no ombro do beijo


os lábios amargos do musseque no abismo desejo


sem destino


este menino


sem cartas de amor


este remetente ausentado


 


Francisco Luís Fontinha


sexta-feira, 25 de Março de 2016

Pág. 1/5

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub