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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.01.16

O sofro nesta vida desesperada


Que nunca tive,


O sono velozmente


Nesta triste rua transparente,


Que sente


E sofre


Os dias clareados,


O sofro do sofrimento


Nos sonhos abandonados,


A sorte,


O desejo envenenado,


Amados


Os transeuntes invisíveis da madrugada,


E vive


E sofre


A vaidade encarcerada,


As metáforas do teu olhar


Embainhadas nos silêncios de ontem,


E hoje acordei


Desenhando o teu rosto no meu rosto,


Sofri,


Sonhei


E senti a verdade dos alicerces de prata,


A cidade enraivecida,


O vício encurralado nas avenidas


Sós


Com soníferos de lata,


O bairro de sucata,


A rua deserta


Como só tu sabes amar,


E viver,


O sofro sofrido


No “foda-se” empobrecido,


No “foda-se” libertado


Deste verso comprido,


Saboreio-me nos teus lábios,


E pinto os meus lábios de sonolência,


Revejo todas as fotos de infância…


Um magricela doentio,


Em cio,


Com palavras em chapa,


Sofro,


O sofro nesta vida desesperada


Que nunca tive,


Que nunca tive um ombro para chorar…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


domingo, 31 de Janeiro de 2016


30.01.16

As escadas ingrimes levavam-me ao cubículo do segundo andar, lá dentro Matilde esperava-me, bato à porta na confusão da sombra do corredor, arrependo-me no medo de me ter enganado e por momentos deixo de ter a certeza se era o duzentos e dezasseis ou o duzentos e dezassete, a porta abre-se e o sorriso de Matilde abraça-se às frestas do gesso embebido no suor da tarde,


Da janela virada para a rua subiam,


E desciam,


Crianças brincavam na ruela e mulheres discutiam porque o marido de uma dormia com o marido da outra,


O rio,


Da janela virada para a rua subiam os desejos do tejo e o cheiro a saudade alicerçava-se no tecto do cubículo,


Feio,


O rio deitado junto à esplanada de Belém e desciam gaivotas das nuvens de Outubro e subiam cansaços dos magalas invisíveis que marchavam numa parada militar invisível,


Matilde abraça-me,


E encosto a cabeça no perfume barato que adormecia no pescoço enfeitado de dálias e gladíolos, da janela virada para a rua subiam,


E desciam,


O rio,


Feio,


Nas frestas que nos observavam e terminavam no espelho embaciado e que vezes sem conta e em silêncio e repetidamente folheavam junto ao rodapé as estórias de desejo do cubículo,


Um homem e uma mulher que ardem na fogueira da tarde,


Um homem e outro homem que suspiram no odor do corpo emagrecido e encharcado de gotinhas de prazer,


Uma mulher e outra mulher simplesmente deitadas, e uma o lençol da outra, beijavam-se e adormeciam sobre o nevoeiro que acordava no tejo e no final da tarde,


Da janela virada para a rua subiam,


E desciam,


O rio,


Feio,


E frio,


Quando me sento na margem do Tejo e ao longe as luzes de Almada, o cigarro cresce na noite e o meu corpo parece um pedacinho de papel misturado no vento, a cama range tal como os suspiros de Matilde se enrolam no néon dos veleiros estacionados na vazante da maré e sinto-lhe os lábios de cereja adormecidos no meu pescoço, e frio, o rio,


E desciam,


Os braços dela até às minhas coxas argamassadas de estrelas,


- Amas-me?


E oiço sussurros no meu ouvido, amava-te muito se não tivesses os problemas que tens e não fosses quem és, e uma língua baloiça na minha face,


- Amava-te muito se não tivesses os problemas que tens e não fosses quem és,


E enquanto extingo o meu olhar nas luzes de Amada pergunto-me quem eu sou?


- Quem eu sou?


O rio que corre,


Frio,


Feio…


E da janela virada para a rua subiam,


E desciam,


Corpos ensanguentados no desejo do sémen,


- Amas-me?


 


Francisco Luís Fontinha


in “Amargos lábios do Poema”


sábado, 30 de Janeiro de 2016


29.01.16

desenho_28_07_2015_3.png


Fontinha


 


Na penumbra tua casa


Me esqueço do viver


Me esqueço da Primavera


E dos pássaros a correr,


Na penumbra tua casa


Sinto o odor do sofrimento


Saltitando entre os cortinados da dor


E o vento,


E o amor?


Agachado junto ao mar


Esperando o regresso da maré,


Na penumbra tua casa


Sei que habitam esqueletos de papel,


Mãos de areia


E pedacinhos beijos ao luar,


Há na penumbra tua casa


O silêncio da morte


Sem sorte


Descendo a montanha do sonho,


E hoje, na penumbra tua casa,


Esconde-se uma gaivota colorida,


Engraçadinha,


Esperta


E que urge libertar,


Do medo,


Da noite


E dos telhados de colmo,


Na penumbra tua casa,


Meu amor,


Nada mais irá acordar…


 


Francisco Luís Fontinha


sexta-feira, 29 de Janeiro de 2016


 


27.01.16

O mesclado silêncio do pensamento


Nas palavras proibidas,


O amor vergado no vento,


O amor dançando no jardim das esmeraldas cinzentas,


A paixão envergonhada


Nas mãos sofridas,


O mesclado silêncio voando na madrugada


Sem perceber o desejo que alimentas,


E em mim a desilusão de habitar o teu olhar,


Sofrer como sofro em cada livro perdido,


O mesclado silêncio adormecido


Nas catacumbas do luar,


E sendo assim,


As esmeraldas no meu jardim,


Sem cansaço nem avareza


Para disfrutar de tanta riqueza…


 


Francisco Luís Fontinha


quarta-feira, 27 de Janeiro de 2016

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