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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.12.15

Estes solavancos que a vida me dá


O transporte para o Inferno


O apeadeiro do desejo


Desgovernado rio abaixo


A cidade dos mortos


Recheada de desenhos


E palavras


Gastas…


A primeira alvorada


O último comboio para a solidão


Quase de partida


Como um foguetão


Quase de se esconder


Como o amor


O dia ameno


Sereno


Como uma criança sombreada pelos esqueletos da selva


A montanha


A diáfana agonia encostada à janela da Sala de Jantar


E eu sentado na tua sombra


Puxo de um cigarro suicidado pelo cansaço


E ignoro-o como se ele fosse o mal dos meus pecados…


Como se eu tivesse pecados


Originais livros


E plantas num rés-do-chão manhoso


Daqueles que ao acordar se percebe que o dia é uma canseira


Uma tristeza


Sobre a mesa


Ao cair do dia


Na aldeia


Sofro


Muito


Sofro o suficiente sofrido das gaivotas em flor


Os jardins suspensos na noite embriagada


O dono da esplanada


“vamos embora seus cabrões”


E fomos


Tristes


Tristes


Por percebermos que éramos cabrões de primeira classe…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


quarta-feira, 30 de Dezembro de 2015


29.12.15

(ao meu pai)


 


Hoje acordei acreditando que existias


Meu verso complexo


Das tardes tardias,


Hoje acordei acreditando que vivias…


Mas os parágrafos das sinfonias


Adormecendo nos meus lábios,


Hoje sabias que eu regressava,


E, no entanto, ignoraste-o,


Esqueceste-te das minhas palavras,


Das minhas flores recheadas de palavras,


Das minhas palavras recheadas de flores,


Hoje acordei pensando que era dia do Pré…


Nem Pré nem amendoeiras em flor,


Hoje, hoje é o dia do sofrimento,


A amargura transformada de claridade,


O dia morto,


Dentro do caixão do relógio…


Na clandestinidade,


Hoje acordei, meu amor, amor nenhum,


Sou um Plátano centenário esquecido num qualquer cemitério…


Sou cinza


E pó,


Sou pó


E cinza,


Brincando na sanzala do sorriso…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Terça, 29 de Dezembro de 2015


28.12.15

Simplifiquei o cansaço,


Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…


Sou livre de amar,


Sou livre de ser amado,


Ou nada das duas, é-me indiferente,


Simplifiquei o desejo,


E hoje é muito mais fácil desejar…


Ser desejado,


Ou nenhuma das duas,


É-me igual,


Indiferente,


Mortal,


O salto para os teus longínquos e proibidos braços,


Estou só, alguns livros e nada mais,


Simplifiquei tudo…


Só não consigo simplificar o amor,


Tão difícil amar…


Amar aquele que nos ama,


Tão difícil amar…


Aquela que nos ama…


Simplifiquei o cansaço,


As noites mal dormidas


Por motivos de preguiça,


O abraço,


Mortal


O salto para o teu olhar,


Fico cego,


Absorvido pelas insígnias do destino


E afins,


Simplifiquei o cansaço,


Libertei-me das tuas garras e hoje consigo voar…


 


Só.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


segunda-feira, 28 de Novembro de 2015


27.12.15

E o Natal!


Sabíamos que amanhã não haveria saudade, sabíamos que amanhã não gaivotas poisadas no Tejo, estou muito doente


E o Natal?


Tenho a “Tara mais pesada que o Peso Bruto”, isso é grave, Doutor? Que sim, que nunca mais vou ver o Rio nem as montanhas nem as prendas, nem…


O Natal?


Quero lá saber dele, nunca goitei dele, prendas, e que se “fodam” as prendas, e todos os dias vinte e cinco de cada mês… estou muito doente, tenho a “Tara mais pesada que o Peso Bruto”, gravíssimo meu Caro, gravíssimo meu Caro, pronto, estou “fodido” a caminho dos cinquenta tudo aparece, é o Natal, é a Tara, é a porra da idade, e nem o Caracol me consegue valer, sobe, sobe… e puf… parede abaixo, capotou mesmo em cima da mulher que sabia falar Russo, tristeza, a Tara… e eu só queria ter uma cabana no cimo do monte, uma mulher que falasse Russo e uma montanha embalsamada no meu corpo, a aventura, o silêncio na procura do abismo, o Natal, prendas, e que se “fodam” as prendas, prendas…


 


(ficção)


Francisco Luís Fontinha – Alijó


domingo, 27 de Dezembro de 2015


26.12.15

Irrito-me com a tua passividade,


A conformidade, o abismo vermelho das abelhas em flor, o sonambulismo dos meus sonhos,


Além, cartas de amor preguiçosas, voando sobre as gaivotas,


Irrito-me comigo, com a janela do meu quarto, e com os teus beijos,


Meu amor,


Com os teus beijos,


Quando regressa a penumbra e acorda a sinfonia do Adeus,


Tão fácil, meu amor, tão fácil… o amor,


E fugir de “Deus”, tão fácil meu amor…


Irrito-me com as minhas conversas suspensas nos candeeiros do cansaço,


Irrito-me, meu amor, irrito-me com o triciclo da minha infância, um triste triciclo, que me amava, tenho a certeza,


O único amor da minha vida,


Um pedaço de madeira, três rodas e um coração do tamanho do Universo, que saudades, dele, meu amor, que saudades,


Irrito-me com o teu corpo desenhado na geada, parece-me mais gordo, parece-me mais desejado, mas, mas meu amor, é tudo uma ilusão de óptica, ilusão, ilusão,


O abstracto sorriso do palhaço rico, a gargalhada do palhaço pobre, e sinto-me um circo, ambulante, de terra em terra, a vender amor e coisinhas em cartolina,


Que saudades, meu amor


Que saudades dos Domingos à janela, olhar-te, meu amor, olhar-te…


Sem saber que pertences aos fantasmas da noite.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 27 de Dezembro de 2015

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