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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


29.03.15

Os colchões de areia do Mussulo


A hipotenusa brincando no quadrado


E num pulo


O mar


Esboçado nas trincheiras da melancolia


A dor


Adquiríamos as ventosas do desejo


Debaixo dos abraços cinzentos


Nos telhados de vento


O tempo indisponível


Tente mais tarde


Ouvia-a depois da luz se extinguir


Nos rochedos negros do púbis


Havia música nas janelas que o luar desenhou


Nas tuas coxas


Deus brincava nos teus pincelados lábios


Pedia-lhe


Não me respondia


A fala


A palavra prometida


Assustava-me


E fugia


Libertava-me do incenso


E das canetas de prata


Alimentava-me dos brinquedos em plástico


Entre as sombras das mangueiras


Os homens


As mulheres


Ao portão…


Abraçava-me


Beijava-me


E no entanto


Era apenas uma fotografia


Sem pátria


Que gemia


E não sentia


E havia


Nos seus ombros


Um triciclo envenenado pela fogueira da paixão


Eu


Eu tremia


Sem saber que o barco me levava


Nunca mais me trazia


A esta terra sem capim


Nem árvores de veludo


O teu corpo imaginava-se nos tristes arvoredos do sonho


Antes de adormecer


Eu… eu escrevia


Olhávamos as almas


E os becos escondidos na cidade


O Tejo entre azulejos


E livros


O caderno junto aos teus seios


Tão pequenos


Como as estrelas


Como os cinzeiros


Semeados na minha secretária


Papéis orvalhados nos condomínios de luxo


As portas do inferno


Comendo os teus geométricos olhos


Vai caminhando na voz enrouquecida das abelhas


E dos veleiros nocturnos da solidão


Hoje recordo-te nos colchões de areia do Mussulo


Como recordo as avenidas embriagadas


Pelo silêncio obscuro


Sempre tive medo dos teus cabelos


Abraçava-me


Beijava-me


E era apenas uma fotografia


Tão triste


Tão triste que durante o dia


Ardia…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Março de 2015


28.03.15

Este beijo de pérola adormecida


Fingindo habitar numa ilha


Os lábios cessam nos murais do sofrimento


O silêncio agarra-se aos tentáculos do desejo


As imagens da escuridão


Desenhadas nas minhas mãos


O vulcão da insónia


Não regressando mais


Como uma folha


Caída do habitáculo tridimensional


A parede perfeita


Escrita entre o orgasmo inventado


 


E o poema perdido


Esquecido nos teus seios geométricos


Quando da ardósia


Um círculo de nada


Morre


E fala


As palavras amadurecidas


Sem nome


Sem medida


O derramado húmus da tristeza


Quando o sémen de prata


Invade a melancolia


 


Nasce o dia


Cresce nas tuas coxas de silício


A penumbra pintura do adeus


Enigmático


Dizem elas quando lêem na minha algibeira sem profissão


O significado do amor


Apaixonado


Não


A bala de sabão contra a minha camisola


A gripe


O profanar


Das flores de papel


 


Que o texto ilumina


Ele é louco


(Dizem elas quando lêem na minha algibeira sem profissão)


Tristes


Meu amor


As canções abraçado a ti


Os poemas escritos nos lençóis humedecidos


A chuva alimenta o teu cadáver


O teu corpo escondido no meu coração


Os teus uivos


As tuas raras mãos


Abraçando-me


 


Alimentando-me


Como Deus


Ao deitar


Meu amor


Sem palavras


Sem livros


Sabes que morro


Sabes que grito


A viagem


O não regressar aos teus ombros


Não amar-te


Quando te amo


 


O medo


Da fala


Dos cigarros.


A alma


Minha


Penhorada por um quarto de pensão


A queca química


Entre dois ponteiros do relógio do avô


Tão bom


Meu amor


Tão bom


Meu amor.


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Março de 2015


28.03.15

Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada


Como as andorinhas desnorteadas


Entre árvores


Entre filamentos de saudade


Sobre a cidade


Dos sonhos


Acordar


O espelho da vida


Em liberdade condicional


Espera


Caminha


A pedra ensanguentada


Das ruelas em flor


O ruído ensurdecedor dos morangos


E das plásticas cabeças de alfinete


O fato prisioneiro no guarda-fatos


O meu esqueleto


Dentro do fato


Os sapatos


As meias


E todo o resto


Em chamas junto ao rio


Não entendo o perfume dos teus lábios


O sorriso que se alicerça em ti


E me sufoca


Quando acorda a noite


E a noite me transporta


Para a carta sem remetente


Oiço-te


E não percebo porque brilham os teus cabelos


Dentro do cubo de gelo


Da paixão


Em aventuras


Entre árvores


Entre filamentos de saudade


Saudade…


Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro


Cacos


Sílabas


Na seara do cansaço


Atrevo-me a olhar a lua


E não querendo ofender ninguém…


A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer


Não sei


Como poderia eu saber


Se as candeias se extinguiram nas marés de prata


Os sonhos


Os sonhos acorrentados ao silêncio


O medo de amar


Não amando


E comer


Todas as pétalas da rosa embalsamada


Tão triste


Eu


Neste cubículo de lata


Sem janelas


Sem… sem nada


Como uma simples folha de papel


Desesperada


Sobre a secretária


Eu mato-a com a caneta


Escrevo palavras


Palavras


Que só o mar consegue entender


E… escrever


Nos meus braços


Dentro de mim há buracos negros


E as equações da relatividade


Sós


Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento


Como eu sabia


Antes de a madrugada bater-me à porta


Olá bom dia


Meu amor…


Hoje não


Volte para a semana


Não


Não quero comprar nada


Hoje


Porque sinto a solidão


Nos arrozais


E nos pássaros


Que os homens constroem


Enquanto o poeta morre…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 28 de Março de 2015

...


27.03.15

Adormecido nas ostras marés da serpente de prata, para o inferno…


E,


Não, filho!


A guerra foi perder tempo, corpos, estórias e memórias, o meu melhor amigo


Morto!


O caixão entre quatro tábuas de sofrimento, a algazarra da embriaguez ouvia-se nos poemas em círculo, a fogueira incendiava a paixão,


Dispo-me?


Não, filho!


Promessas,


Dispo-me, olho-me no espelho do enterro, ele


Não,


Ele de espingarda ao ombro, imaginava-se um soldado de chocolate, sentia dentro do seu peito cada disparo, cada dor, cada…


Fugiu!


Ontem, ao final da tarde, a viagem até ao ninho das cegonhas negras, descia a noite sobre o capim dos beijos analógicos,


Na parede,


Fugiu…


Os ponteiros mergulhados numa poça de sangue, a lápide esperava-o na aldeia, o meu pai


Coitado,


Sentado numa cadeira a vender seguros de vida, falsos, claro


O telegrama,


Morto em combate,


Claro, amanhecia e ele sentia-se um peixe perdido nos fósforos do desejo, e a morte mesmo ao seu lado…


 


 


(ficção)


Francisco Luís Fontinha - Alijó


Sexta-feira, 27 de Março de 2015


27.03.15

Tenho no corpo


o sentido proibido do silêncio


os ossos choram todas as madrugadas


das lágrimas


as palavras


e nas mãos o feitiço do amanhecer


querer


não quero


ser


sem o saber


a leveza insignificante dos meus braços


suspensos no sorriso do luar


não acredito


acreditar


nas nefastas sentinelas da noite


o amor camuflado


caminhando no capim


as pálpebras cinzentas


misturadas nos cigarros embriagados


que só o fumo consegue desenhar


no triste pavimento da sanzala


oiço a sombra da paixão


voando sobre os coqueiros


o papel colorido


inventando poemas


nas nuvens cortinas do meu aposento


os livros


os livros são como homens em cio


cansados


cansados das sílabas em flor


e do rio


onde adormece a ponte do desejo


não desejando


desejar


não desejando


desejar o perfume do mar…


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 27 de Março de 2015

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