Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.10.14

Olho-te como se fosses um falso espelho


semeado no centro da cidade


olho-te e no teu silêncio há um poema embrulhado em tristeza


sofres


sofres sem dizeres nada


olho-te e não sei a cor do teu sorriso


se tens dores


se...


se preferes sentir o mar


como fazíamos no Mussulo


davas-me a mão e eu sonhava...


hoje... hoje sentes a minha mão e tu constróis lágrimas em papel...


lá fora dança o vento e tu voas como voam os suspiros invisíveis


geme uma árvore


ouve-se o rosnar fervoroso dos automóveis embalsamados


ouvem-se as migalhas de dor correndo montanha abaixo...


lá fora as minhas veias são cinza de cigarro


após cigarro


olho-te... olho-te e não me canso de te olhar


como nunca me cansei dos teus lamentos


olho-te e percebo como eram lindas as sanzalas de Luanda...


e os barcos acorrentados a braços de gesso


sofres


sofres sem dizeres nada...


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 31 de Outubro de 2014


30.10.14

Toco-te sem saber que não sentes o meu silêncio


toco-te sem perceber que há dia nos cortinados do teu olhar


sentamos-nos


e descubro que na tua mão de lágrima


vive uma abelha


triste


e cansada


toco-te fingindo que no teu corpo existe uma cidade por descobrir...


deserta, só


toco-te sem saber que não sentes o meu silêncio...


que a minha ausência vestida de negro


é apenas um pedaço de cansaço semeado no teu ventre...


 


O veneno


o veneno que há em ti


comestível nas tardes de solidão, à janela


desenhando o que é impossível de desenhar...


porque os círculos da paixão se evaporam nas pedras em combustão


e na geometria... o amor não tem significado


é absorto


é... é mais uma ruela sem saída


o veneno


o veneno que se alicerça aos teus seios


e...


e não te deixa adormecer,


 


Toco-te sem o saber


porque deixei de observar as tuas algas


e esqueci que nesse rio onde andavas...


ninguém hoje sabe que o teu corpo lhe pertenceu


foste abraçada


foste... foste amada


pensavas que havia rochedos de insígnias


quando apenas...


nada


quando apenas uma quadriculada palavra... invadiu as tuas coxas


absorveu-as... e hoje são um esqueleto de vento


em pequenos quadrados suspensos nos lábios de um marinheiro...


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quinta-feira, 30 de Outubro de 2014


30.10.14

Este Outubro de desengano


como um rio sem cidade


os pássaros felizes


os pássaros... os pássaros sem vaidade


poisados nos teus ombros silenciados


este Outubro desgraçado


que vive nos meus cabelos


voando


voando...


voando sob o tecto da saudade


este Outubro sem palavras ou versos


este Outubro suspenso na cárcere invisível


que não sabe


e ignora


o outro Outubro cinzento


aquele que mora


no bairro banhado de lata


este Outubro que se entranha em mim


como um tentáculo de espuma...


este Outubro... foi assim...


comi flores de papel


pintei lágrimas no teu olhar


este Outubro que chora


e nunca viu o mar.


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quinta-feira, 30 de Outubro de 2014


29.10.14

Esqueci o meu nome enquanto dormia nesta seara de insónia,


levemente me batia,


o vento inanimado...


cansado de trabalhar,


esqueci o meu nome nos livros da paixão,


desenhei corações nas entranhas da solidão,


esqueci o meu nome nas ruas de uma cidade,


também ela,


também... também eu...


sem nome,


sem... sem idade,


na calçada da liberdade,


 


Caminhei sobre o amarfanhado mar,


como um vampiro em chocolate,


deitei-me no chão,


dormi na seara da insónia...


esqueci o meu nome nas estrelas de cartão,


não sei se estou vivo...


não sei... não sei se hoje há vertigens na minha mão,


enquanto embriagado me encosto ao xisto muro,


não seguro,


o perfume silêncio em volta dos teus seios de rochedo cinzento,


não me calo...


não... não me contento,


 


Esqueci o meu nome nas andorinhas de veludo,


voei como voaram os meus sonhos...


hoje... apenas pedaços de sombra,


e aço enferrujado,


não me calo, não... não tenho medo do amor impossível,


esqueci o meu nome,


esqueci...


nas arcadas do infinito,


não seguro,


não... não me contento...


e no entanto,


sou feliz sem nome... sou feliz sem estória...


 


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Quarta-feira, 29 de Outubro de 2014

Pág. 1/9

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2015
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2014
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2013
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2012
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2011
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub