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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.08.14

Esta casa que não cessa de chorar,


estas janelas com bocas de inferno e línguas de fogo...


para me atormentarem,


me enganam,


me sufocam,


alimentam-me as mãos depois do jantar,


e me tocam,


saciando a sede do rochedo sobre o telhado da saudade,


salpicando de sangue o meu corpo de pano...


esta casa que vi enlouquecer,


onde cresci,


onde morri... morri de sofrer,


 


Esta casa de engano,


estes livros mortos, cansados de viver,


esta casa com paredes de vidro e tecto de colmo...


o circo,


o circo regressa à minha terra,


eu, o palhaço das palavras,


o trapezista dos silêncios...


o que tem esta casa?


que me acorrenta ao soalho emagrecido pelo veneno do sofrimento,


esta casa... esta casa não existe, e eu, o palhaço das palavras...


olho esta casa de frestas e donzelas e crucifixos falsificados,


que o circo transporta nos finados...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 31 de Agosto de 2014


31.08.14

Ele suicidou-se nas palavras,


transportava no peito uma ardósia de silêncio,


caminhava sobre o inventado mar das terras assustadas,


e acreditava nas palavras...


tinha um saco de pano onde tudo guardava,


cartas,


rosas embalsamadas...


e livros amachucados,


trazia na pistola uma bala de prata,


um coração de vidro...


e um beijo de lata,


apontou-a à caneta de tinta permanente,


e...


e suicidou-se nas palavras,


lá ficou ele entranhado nas terras assustadas,


como um cão raivoso,


como um pássaro sem asas,


o amor do poeta suicidado vestia-se de papel,


trazia nos lábios um poema amaldiçoado,


com palavras assassinas...


descia a montanha,


sentava-se junto à ribeira,


e na algibeira quase sempre uma caneta apontada,


a pistola com corpo de mulher,


nua, percebia-se na areia as curvas lunares,


e nuvens de insónia...


ele suicidou-se nas palavras,


quando a tarde ainda brincava nas terras assassinas.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 31 de Agosto de 2014


29.08.14

Um coração mal apagado


poisa suavemente num cigarro apaixonado,


apelidam-no de “amor simplificado”,


o “amor simplificado” é um gajo porreiro,


escreve poesia,


vai todas as semanas ao barbeiro...


e ao deitar, reza,


um cadeado de palavras cerra-lhe a janela do quarto,


tem um espelho na garganta que transforma fome em alegria,


não sente ele o nascer do dia,


não quer saber ele da literatura,


nem dos rochedos com sabor a melancia...


 


O “amor simplificado” vive numa esplanada,


entre o mar e o “mercado”,


o “amor simplificado” tem escadas nas sobrancelhas,


domesticado e formatado como as abelhas,


nem dos rochedos com sabor a melancia...


ele tem medo,


 


Um coração mal apaixonado,


de mão dada com um cachimbo de prata,


o latir do cão que as trevas viu nascer...


faz com que ele invente bonecas de trapos,


e praias com areia de porcelana,


jazigos em lata,


nasce o sol e ele parece cansado de viver,


detesta os livros de farrapos...


tal como não aguenta os uivos das “madames” passeando na calçada,


o “amor simplificado” tem na testa um letreiro,


vendem-se poemas congelados


com odor a marmeleiro...


 


O tal,


o grandioso...


 


O “amor simplificado” é um gajo porreiro!


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014


29.08.14

Não sei amar,


oiço o ruído da saudade que se acorrenta às frestas da alma,


há uma janela com acesso ao deserto,


não dou importância às pessoas com sorriso de vidro,


ou... ou que habitam as florestas com asas de aço,


têm mãos de palha, há nos seus dedos forcas em espera...


não sei amar,


e oiço do cansaço adormecido o acordar da tempestade,


uma rua dentro da algibeira,


uma moeda que nem dá para almoçar...


quanto mais... jantar,


e o mendigo que me acena e convida para dançar,


 


O menino dança?


 


Vai-te “foder” mendigo que eu não sei dançar,


um cigarro suicida-se nos meus lábios,


e no meu peito deita-se um pedestal encarnado,


não sei amar,


não sei escrever,


não sei fazer anda...


o cigarro grita pelo mendigo,


o mendigo toca-me no braço,


o meu braço começa a flutuar sobre as sílabas embriagadas,


e um poema vaidoso senta-se junto ao rio...


dou-me conta que lá fora é noite,


e não quero sair do útero da noite...


 


O menino dança?


 


Vai-te “foder” mendigo que eu não sei amar...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014

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