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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.06.14

Regressei,


poisei o pé na gare comovida pelo meu sorriso,


olhei,


ninguém à minha espera,


... quem poderia esperar por mim!


havia pássaros ao redor,


havia flores no jardim contíguo à estação,


olhei,


e nem uma míngua lágrima clandestina a voar sobre o meu peito,


havia um cão desnorteado,


talvez recheado de fome,


pancada... e carente de amor,


 


Toquei-lhe,


olhou-me,


e acolheu-me até hoje,


 


Regressei,


trazia nos ombros as almofadas do cansaço,


tinha nas mãos o silêncio dos morcegos e envenenados pela insónia,


toquei-lhes,


olharam-me,


e acolheram-me até hoje,


hoje,


hoje tenho um cão,


e... e meia dúzia de morcegos,


o cão envelheceu, o cão... o cão parece os gonzos de uma porta peneirenta,


de uma porta sem saída,


e os morcegos... esses... também eles carentes de amor...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 30 de Junho de 2014


29.06.14

A tua voz me entristece,


quando sei que deixou de existir em mim o verbo amar,


a minha cidade, lá longe, tão longe... que nunca a conseguirei alcançar,


dormir nela,


acordar cedo, e abrir a janela,


a janela que tenho no meu peito,


há gaivotas, e há um corpo que envelhece,


a tua voz... a tua voz me enlouquece,


e no entanto, sou obrigado a viver acorrentado a este silêncio sem nome,


a esta vergonha de perder sem ser encontrado,


... não sendo habitado,


nesta sanzala de papel...


 


Este esqueleto de gesso que carrego e me deito,


sem perceber que há lábios de mel, que há lábios de desejo..., lábios consumidos pela fogueira de beijar,


esta voz me entristece,


como a água do rio que se evapora,


e levita,


e procuro-te, e procuro-te...


e me dizem... aqui ninguém mora,


aqui... aqui ninguém... chora,


 


Aqui é proibida a escrita,


 


Os tentáculos do amor,


os seios de uma flor antes de acordar,


as cordas de nylon que ancoram a tua dor...


ao cais de embarcar,


 


A tua voz me entristece,


o teu corpo vacila na tempestade de sonhar,


o calendário não cessa de correr...


e come-te em pedacinhos,


a tua voz enfraquece,


e transforma-se em versos desesperados,


versos odiados,


versos de escrever...


a tua voz me entristece,


antes de alguém desenhar no tecto das tuas pálpebras a madrugada,


ainda não zarparam os barcos da minha infância,


ainda... ainda não encontrado o verbo “AMAR”...


 


A tua voz não pode gritar!


 


A tua voz é um feitiço,


uma nuvem vagueando sobre o Tejo,


a tua voz é um marinheiro mórbido, um marinheiro embriagado na esplanada do beijo...


há cadeiras apaixonadas, há sorrisos travestidos de amanhecer,


a tua voz não pode cessar, a tua voz... não pode morrer,


a tua voz... não é o meu verbo “AMAR”...


que... que deixou de ser,


que... que deixou de sofrer...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Junho de 2014


29.06.14

(para ti)


 


 


Eu te quero,


mergulhar nas cinzas abandonadas do rio que te absorve,


escrever na flácida pele que te embrulha para separarem a tua pele... da minha pele,


eu te quero,


desfeita em pedaços de suor,


palavras suicidadas das folhas emagrecidas,


palavras de amor,


eu te quero,


como quero viver,


mergulhar nos teus tentáculos que só o desejo conhece..., dentro de ti,


eu te quero... como quero morrer...


apenas... apenas ser.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 29 de Junho de 2014


28.06.14

Não gosto destas mãos que me enlouquecem,


não gosto destes lábios que me entristecem,


dos fantasmas alicerçados no meu peito,


não gosto destes cabelos sem jeito,


submersos no sorriso do luar,


não gosto, não... não gosto destas coxas em flor,


desse distante mar,


não... não gosto que me chamem de... de amor,


 


Não gosto da sublimação que habita nesse olhar,


das magoadas luzes que engolem a cidade,


não gosto destas mãos que me enlouquecem,


não gosto destes lábios que me entristecem,


não, não me obriguem a amar,


quando... quando esse verbo é falsidade,


é vento,


na ponte em solidão das canções de acariciar...


 


Não gosto destes seios de neblina,


fictícios, de menina,


não gosto deste livros que ofuscam a minha janela,


não me deixam ver as gaivotas, não me deixam ouvir a voz da concertina...


não, não gosto destas tristes anedotas, destes esqueletos de metal,


não,


não gosto das ruas de fio dental,


que todas as noites invadem o meu coração.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 28 de Junho de 2014


28.06.14

Já não há pássaros azuis,


deixaram de existir corações para amar,


já não há palavras de escrever,


aquelas que se escreviam num corpo transatlântico e com olhos de chover,


não há, morreram os gladíolos de papel,


morreram os beijos com odor a mar...


já não há cidades clandestinas,


vestidas de meninas, mimadas, amadas... meninas... com lábios de mel.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 28 de Junho de 2014

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