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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.03.14

Tenho medo de ti, quando me espreitas da janela da solidão,


percebo que estás frágil, inconformado, ausente das minhas mãos de chocolate,


fumo-te sabendo que habitas nos meus olhos de cascalho...


sou triste quando os teus lábios dormem nos meus lábios,


e invento papeis de estanho para esconder as minhas lágrimas.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Segunda-feira, 31 de Março de 2014


30.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Sou absorvido pelos tentáculos da insónia,


dou-me conta da noite triste,


confusa, e só...


pertenço às paredes límpidas da solidão fantasma, às vezes, ela, veste-se de livro,


e dorme na minha mão disfarçada de rocha ensanguentada com dentes de leão,


outras, ela parece o cortinado inanimado da minha janela sem fotografia para o mar,


 


Sou absorvido por barcos longínquos das tardes de cacimbo,


sou o portão de entrada do quintal imaginário rodeado de mangueiras e sombras,


oiço o sorriso do embondeiro a sobrevoar o meu olhar, e sei que estou vivo porque alguém pega na minha mão de menino e diz-me que sou filho do Oceano,


sou absorvido por tudo e por nada,


pelas palavras, e pelas montanhas, e pelas ardósias envergonhadas do desejo,


sou... pelos tentáculos da insónia,


 


E.. e dos beijos,


sou um cadáver sem nome,


e enquanto era absorvido... sei lá por quem eu era absorvido!


mãos, pernas, braços, caricias, loucas caricias de mãos desconhecidas,


e no entanto, ainda pertenço aos indefinidos corações de incenso com borboletas cinzentas...


e bocas, absorvido por bocas famintas.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 30 de Março de 2014



30.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Sacias-te na minha sede mergulhada em perfumados cachimbos de prata,


encontras em mim a doce corrente do aço clandestino da saudade,


sei que existo porque escrevo-te palavras, vãs palavras que o tempo come, e alimentam as tempestades da dor,


sacias-te em mim como se eu fosse um marinheiro escondido na escuridão da cidade,


procurando engate, procurando o prazer sem o prazer... no inanimado mundo da morte,


procurando mãos silenciosas para argamassarem o meu corpo aos cais do desgosto,


e sinto-me uma ténue folha de papel esquecida no teu ventre,


sacias-te nos meus olhos, e cerro-os para me ausentar de ti,


palavra, palavra do engano que sente o sofrimento,


e... dizes-me que todas elas são inconstantes equações trigonométricas,


cansadas,


tão cansadas como as tuas mãos poisadas no meu rosto de lata...


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Domingo, 30 de Março de 2014



29.03.14



foto de: A&M ART and Photos


 


Ele tinha um coração em pedra, daquela pedra ínfima que alimenta os beijos nocturnos dos pássaros,


vinha a chuva, e viam-se-lhe as perdidas chapas de zinco nos pobres telhados da madrugada,


hoje, ele, hoje ele dispensa o significado da palavra “AMOR”, porque onde a tinha escrito, na folha caduca da árvore tombada, essa, essa... morreu, morreu a palavra... morreu a árvore tombada,


fingiam-se amantes abraçados aos pinheiros mansos no recreio da escola, e sempre, e sempre havia uma janela em ruínas, pedaços de lágrimas que sobejavam do sino da Igreja,


ao longe sentiam-se os feirantes que tudo vendiam, e de nada servia gritarem... “Vendem-se Beijos Embalsamados”, porque de beijos, nada, nem o vento, nem o triste amanhecer na boca dela,


 


Desenhei-lhe os lábios na esplanada do falso diamante,


escrevi nos seus seios “AMAVA-TE”..., hoje escrevo, não, hoje nada lhe escrevo, porque o amor desaparece e aparece como as sombras dos barcos em movimento,


recordo o púbis coloidal do imaginado olho de vidro, fundeado na minha mão,


a mesma que depois de suicidada, acariciava-te os esconderijos do néon vaginal,


e assim, ele tinha um coração em pedra, e assim... ele dorme sobre as candeias do luar.


 


 


Francisco Luís Fontinha – Alijó


Sábado, 29 de Março de 2014


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