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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.07.12

O louco perguntou-me


se as árvores do jardim voavam,


olhei-o em cintilações complexas


enquanto me perguntava se as árvores do jardim voavam,


percebi que as árvores do jardim voam


quando as persianas da insónia da enfermaria se encerram,


e do jardim,


ouvem-se os passos invisíveis da morte...


 


o louco perguntava-me


e eu olhava-o


e o prato metálico da sopa


em acentos circunflexos sobre a minha cabeça,


 


os loucos são gajos porreiros,


 


puxava de um cigarro


e com todo o tempo existente no mundo...


via as árvores do jardim em voos desordenados


para enganarem os médicos e os enfermeiros,


 


porque os loucos são espertos


e fingem que dormem


e fingem que não vêem o voo nocturno das árvores


enquanto o louco fuma cigarros debaixo das amoreiras.


31.07.12

Desenhei o teu nome


na areia finíssima do Mussulo


e sentava-me a olhar o teu sorriso


sobre a crista das ondas


desenhei barcos


inventei árvores e pintei pássaros no lugar das estrelas


construí amores e desejos cansados


sem sentido


e escrevi e escrevi e escrevi...


e escrevi as palavras sem jeito


que nunca gostaste e detestas


e desenhei o teu nome


 


e o vento levou


levou toda a areia da praia


e fiquei ausente


e sem os barcos de papel


 


e na crista das ondas


hoje


hoje brincam árvores de fumo


com folhas de silêncio.


30.07.12

Vivo entre quatro paredes invisíveis


construídas pelo vento


sou metade pássaro


sou metade peixe


(e não sei amar)


e nunca percebi as (mulheres)


confesso


confesso que me é mais simples resolver uma equação diferencial


do que


do que olhar as manhãs de inverno da janela do palheiro onde habito


do que


resolver uma integral tripla


 


confesso


(e não sei amar)


as cintilações da álgebra linear e geometria analítica


matrizes


confesso que muito mais simplificadas


do que


do que algumas mulheres


(e não sei amar)


 


as flores


e as noites à espera das sílabas lunares


em rotações complexas


elípticas


 


o que interessam os protões


electrões


buracos negros


galáxias


deus


se o céu nocturno é tão lindo...


 


o que me interessa se a água é uma molécula


composta por dois átomos de hidrogénio


e um


e um átomo de oxigénio...


 


se elas (as moléculas) simplesmente saciam a sede


e refrescam as mãos húmidas das palavras


em telegramas ínfimos ausentes no cadáver da floresta abandonada


(e não sei amar)


 


dizem


dizem-me que nunca soube amar


 


e


e fico triste.


30.07.12

Habituaram-se às minhas palavras


e esquecem-se


e não percebem


que também eu preciso de ouvir as palavras dos outros


as palavras que o mar engole


e as árvores em marés de desejo


esculpem nas sombras da solidão com pingos de insónia...


do mar


que engole palavras


e eu


e eu também preciso de ouvir as palavras


que os barcos levam para longe.


29.07.12

Falta-me tudo... e a noite


longínqua esconde-se dentro da caixa do silêncio


oiço as vozes que sobejam do caixão do sorriso...


e deixei de ter vontade de sorrir


e deixei de acreditar


nas luzes e nas estrelas e no rio onde brincavam cacilheiros


no final do dia


a ponte


gente louca travestida de insónia


falta-me tudo...


as janelas


e as portas de saída para a noite.

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