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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


29.06.12

À espera de quem nunca virá


acariciar as faces doiradas da lua


à espera


à espera das estrelas de engano


com mãos de pano


e que fingem orgasmos na via láctea


à espera de quem nunca virá


desligar o interruptor da solidão


e não tenha medo de deixar


sobre a mesa invisível


o pão


e o mar


 


o pão e o mar


sobre as finas planícies da biblioteca


o amor com o sabor amargo das palavras cansadas


e beijos


 


o pão


e o mar


 


o dia antes de morrer


 


à espera de quem nunca virá


acariciar as minhas mãos macias


que roubei à lua


numa noite de verão


uma noite muito especial


o pão


e o mar


do dia antes de morrer.


28.06.12

Tudo à minha volta morreu:


morreram os miúdos que brincavam


nas tardes de Luanda


com triciclos de madeira


e sombras de mangueira


e novelos de esperança


nos lábios de papagaios de papel


em galopes invisíveis de um cavalo branco


 


morreram as gaivotas


e todos os pássaros meus amigos


morreu a Baía


e as palmeiras do fim de tarde


 


morreram os barcos


e as mulheres dos barcos


morreram os filhos dos barcos


e as sogras dos barcos


restaram os sogros


para contarem a história dos putos traquinas


que simulavam a morte com um pirolito


ou com uma gasosa junto ao capim


 


não morreram os musseques


multiplicaram-se


triplicaram-se


como todas as ervas daninhas da vida


 


(morre a felicidade


e todos os miúdos que foram felizes


excepto os musseques que crescem


crescem e crescem até chegarem ao céu...)


e que amanhã será um outro dia


(qual dia “caralho”?)


 


se todos os dias são fotocópias do dia anterior


e os musseques crescem e crescem e crescem


e crescem...


nos céus de Luanda.


27.06.12

Vivo num poço de tristeza


com nuvens de solidão


e montanhas de lágrimas beleza


vivo não vivendo a certeza


que do rio de onde bebo as palavras de amar


se são palavras de amor


ou apenas desvairadas sílabas


sobre a mesa


26.06.12

A minha vida


sem tecto para olhar as estrelas


a minha vida


sem paredes


onde viviam janelas


a minha vida sem portas


onde dormiam flores


com cheiro a incenso


 


a minha vida


(uma merda em dois actos)


uma rua sem saída


ou a puta da sarjeta no centro da avenida


(horrível)


o rio sem barcos o rio sem sargentos o rio sem travestis


é triste este rio que chora e não desiste


 


a minha vida


(uma farsa literária)


com fotografia para o mar


onde brincam os afogados


e os desesperados que dizem que a minha vida


é uma encomenda sem morada


perdida


nas mãos do senhor Opiário...


25.06.12

Tenho dias de inverno


de inferno noite


tenho dias sem noite


e noites em dias


tenho horas com rios


e dias


noites dela em cio


tenho dias em dias


rio nas mãos do mar


dias de inverno


em inferno noite


e dias de dias às noites


 


tenho dias de inverno


de inferno noite


 


tenho dias à janela


outros dias


com a corda suspensa no mar


tenho dias de inferno


e noite de inverno


dias em dias dos dias de amar


 


e tenho dias com poesia


e dias que não consigo acordar


dias aos dias outros dias


dias sem trabalhar.

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