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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.05.12




eu não acreditava


que o mar era quadrado


que a terra chorava


eu


não


eu não acreditava


que o meu coração


palpitava


galgava


porque era quadrado


o mar


onde eu me banhava


 


eu


não acreditava


que onde eu me banhava


o mar


eu não sonhava


acreditava


o mar era quarta-feira


antes de me deitar


e eu e eu acordava


não sabendo que brincava


com uma abelha


na minha cama deitada


 


não


eu


não eu acreditava


 


que o mar


que o mar quadrado


que o mar quadrado apaixonado


não


eu


eu não


me cansava


de abraçar o vento cansado


 


não


eu


não eu acreditava


Eu não acreditava


que o mar era quadrado


que a terra chorava...



31.05.12




pois


depois talvez às vezes


outras vezes


não sei


pois talvez


talvez um dia


uma tarde


outro mar


 


outro navio


fotocópias do rio


 


de costas


deitado


pois


coitado


às vezes


talvez um dia


um outro dia


outro navio fotocópias do rio


 


de pé


sentado


no café


coitado


 


Pois


depois talvez às vezes


outras vezes


não sei


 


talvez um dia



30.05.12

Há um cigarro


apagado


um cigarro inchado


estupidamente sofrido


estupidamente


agachado


estupidamente cansado



 


há um cigarro


há um cigarro apagado


na clarabóia do sono


há estupidamente


um cigarro


 


cigarro morrido



há morrido estupidamente


ao findar-se a tarde num cigarro


apagado


lixado


 


fodido


 


há um cigarro


moribundo


há um cigarro cigano


sem mundo


e no engano


e no entanto


enganado


o cigarro imundo


 


desgraçado


fodido


 


há um cigarro enganado


nas mãos do finado


cigarro


há cigarro


tostas mistas


rissóis de camarão


sem pão


ão ão ão


 


no pulmão.


29.05.12




abre-se a brecha entre o sol e a lua


uma bolacha de trigo


mergulha no leite com café


sem cigarros


abre-se em ti o murmurar de gemidos


na aldeia escondida das sandálias sem primavera


 


secreta


a vagina da ditadura


 


abre-se


a brecha de uma bolacha de trigo


entre o sol e a lua


na rua


à tua


secreta


vagina


em literatura


 


à tua


na rua


secreta


a vagina de amargura


 


à tua


à tua a rua


sem nome


secreta


ditadura


 


abrem-se


entre o sol e a lua


vagas paras espiões desempregados


ex-drogados


ex-deputados


sem nome


à janela


da vagina secreta


da ditadura


 


na aldeia escondida das sandálias sem primavera


a vagina secreta


da amargura


na rua da ditadura.



29.05.12




Caminho sobre a cidade em construção


deito-me na ponte do desejo


e acaricio os prédios em ruínas


as ruas de sílaba em sílaba


debaixo das árvores de papel


a cidade


a caminho do infinito


na desordem de acordar


 


e frio


nas sílabas de sílabas das sílabas


da tua boca engasgada nas palavras proibidas


e frio do silêncio das flores de cetim


em busca de um abraço


à procura de um beijo


 


a caminhar


sobre o vento em construção


a cidade


a cidade invisível à janela da tua boca


e frio


nas sílabas


em flores de cetim


a cidade proibida


 


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