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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


30.04.12

Não conheço a menina de lado algum, tão pouco a matrafona que a acompanha,


- Olá eu sou o Vasco, Qual Vasco “Caralho”?, E que eu saiba não existe nenhum Vasco na minha vida, e não entendo a razão destes dois parvalhões, durante a noite, descerem até mim e entrarem nos meus sonhos,


A menina aproxima-se, aproxima-se em silêncios de amêndoa quando a primavera rompe as montanhas e do rio ensanguentado de pólen uma abelha saltita à procura das sílabas do mar, o parvalhão do Vasco olha-me entre dois pedaços de marmelada e queijo de cabra, oiço da fazenda contigua ao palheiro os gemidos do bode, Raios o partam Grita a menina de mão dada ao Vasquinho,


- Qual Vasco “Caralho”?,


O chibo irritado às marradas contra o canastro plantado no canto esquerdo da eira, sento-me e começo a sentir a afamada comichão dos resíduos do milho, imagino o meu avó, imagino o tio Serafim, imagino os velhos com esqueletos transparentes às voltas com o malho, e uma finíssima poeira entra dentro de mim,


- E por instantes esqueço os dois parvalhões que me visitam durante a noite, a menina e o Vasquinho, e em frente ao espelho do guarda-fato vejo-me em Carvalhais – S. Pedro do Sul, e oiço o bater do malho na eira, e em gestos desorganizados digo ao meu avó Domingos (que se enervava com o nome porque dizia que Domingos era nome de preto e que todos os pretos se chamavam Domingos), e digo ao meu avó Domingos que para a tarde terminar em beleza apenas faltam os Fingertips, Que tal Avó?,


É o que eu te digo meu filho Arranja uma gaja rica, E calo-me porque não foi isso que lhe perguntei, E calo-me porque essas coisas de riqueza...,


- Prefiro mesmo ouvir os Fingertips,


Portanto à questão do porquê da visita de dois parvalhões durante o meu sonho, a menina e o Vasco,


- Olá Eu sou o Vasquinho!,


Qual Vasco “Caralho”? Arranja mas é uma gaja rica e deixa-te de “merdas”.


 


 


(texto de ficção não revisto)


30.04.12

Aos olhos


a paixão pigmentada do cansaço


o murmúrio das palavras


em sexo num vão de escada


gemidos descem do sótão


como crianças embriagadas no berço da tarde


 


aos olhos


dos olhos


a literatura com chá e torradas


e sumo de laranja


 


e palavras


 


e murmúrios


 


aos olhos


 


aos olhos


o silêncio da noite


dentro de uma caixa de sapatos


sem janelas


sem gatos


aos olhos


 


e palavras


 


e murmúrios


 


e conversa fiada.


30.04.12

Também sou humano


tenho pernas e braços


e preciso de comer,


também sou humano


tenho pernas e braços


e preciso de viver,


 


também sou humano


tenho pernas e braços


e preciso de caminhar,


também sou humano


tenho pernas e braços


e preciso de trabalhar.


29.04.12

Um cachimbo com asas


abraçado a uma pomba tricolor


uma fogueira sem brasas


que beija as pétalas de uma flor


 


um cachimbo com asas


mergulhado no oceano do cansaço


um cachimbo rasca


à rasca


na sombra de um abraço


 


sem brasas


o cachimbo adormece sobre um livro doente


o cachimbo é eterno e infinitamente mente


com asas


 


um cachimbo prateado


cansado


moribundo


coitado do “Edmundo” (e não conheço nenhum)


chega a casa e sente


os gemidos do cachimbo doente


que infinitamente mente


que infinitamente com asas


em brasas


os lábios da sua amante


prateado


coitado


 


coitadinho do cachimbo


no limbo


sem sorte


à espera pacientemente da morte


coitado


deitado


 


com asas.


29.04.12

A esta miséria viver


a que chamam de vida sofrer


 


caminhar numa rua sem saída


 


a esta miséria viver


quando escrevo um poema sobre o mar


a que chamam de vida sofrer


a que chamam silêncio de amar.

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