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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.10.11

Perguntavam-lhe – Menino


O que queres ser quando fores grande?


Ele encolhia os ombros,


Olhava indiferente o sorriso das mangueiras


 


E no céu de Luanda


Alguém escrevia pela calada da noite…


- Miserável!


E o menino respondia,


 


- Quando for grande quero ser miserável


E viver na rua,


E abraçar-me ao candeeiro


Plantado no centro do passeio,


 


- Quando for grande


Quero ser o candeeiro que ilumina a puta


Ou o magala à espera de engate


Quando for grande,


 


Quando for grande


Quero ser um miserável,


O cão vadio


Que quando acorda,


 


Não acorda,


E quando for grande


Quero ser o buraco da fechadura da noite


Onde dormem as estrelas,


 


Quero ser o miserável


Candeeiro plantado no centro do passeio,


Quero iluminar a puta


Quero iluminar o magala…


 


E quando o cliente chegar,


Receber o dinheiro…


Sentar-me junto ao Tejo,


E contar as gaivotas de sorriso amarelo,


 


É isso,


Quando for grande,


Se algum dia conseguir ser grande…


Quero sentar-me junto ao Tejo,


 


E contar as gaivotas de sorriso amarelo,


 


Mas primeiro,


Desligo a luz à puta ao magala e ao paneleiro,


Deixo de ser candeeiro plantado no centro do passeio…


E sentado junto ao Tejo,


 


Conto as gaivotas de sorriso amarelo.


31.10.11

Espero enquanto a noite se esconde


Dentro do meu esqueleto


E nem uma simples sombra me abraça


Ou se deita na minha mão,


 


Espero,


E a noite longínqua dos meus lábios


No miolo dos meus ossos


Evapora-se sem me avisar,


 


Sem me abraçar,


Espero enquanto a noite se esconde


E dentro do meu esqueleto


A dor


 


Mergulhada na solidão que não termina,


Acaba a noite…


E começa a saudade


Do mar enrolado às coxas da maré,


 


Espero


E no púbis das estrelas


Vejo o meu corpo desossado…


E começo a chorar.


31.10.11

Não, não estou louco,


E querem fazer de mim louco,


Fecharem-me dentro de um aquário


Emerso em acetona,


 


Louco, eu?


Porquê louco?


 


Escrevem nas paredes do meu quarto


Frases do tipo…


“Hoje é terça-feira” e tenho a plena certeza que é segunda-feira,


Ou que “hoje é dia 28 de outubro”…


 


E fui ao calendário pendurado na parede da cozinha,


E lá estava, hoje é dia 31 de Outubro de 2011…


E de manhã ao acordar eu menti,


Acordei e disse a mim próprio,


 


Francisco, - sim sou eu, hoje vais acordar sem corpo,


E acordei,


 


E vieram três homens do poema de AL Berto,


(com a cabeça de vidro),


Trouxeram o aquário


E mergulharam-me lá dentro,


 


Eu que acordei sem corpo…


 


Não, não estou louco,


E querem fazer de mim louco,


Fecharem-me dentro de um aquário


Emerso em acetona,


 


Louco, eu?


Porquê louco?


 


Não, não estou louco!


31.10.11

Hoje acordei


Amarrotado como uma folha de papel


Cruzei os braços e abracei o meu corpo…


Desilusão,


 


Hoje,


Hoje não tinha corpo,


Hoje,


Apenas uma sombra deitada nos lençóis da manhã,


 


E escrevi


Na folha de papel amarrotado


Em que se transformou o meu corpo,


- Vou desistir de sonhar!


 


Hoje acordei


Amarrotado como uma folha de papel,


Hoje sou um rio cansado


Escondido entre as montanhas da solidão,


 


Hoje eu sem corpo,


E escrevi na folha de papel amarrotado


Em que se transformou o meu corpo…


- Não me deixes cair!

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