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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


16.03.11

O sol definitivamente deixou de acordar em mim


O mar eternamente escondeu-se numa sombra


O silêncio permanentemente vive no meu corpo…


 


O sol, incapaz de me amar,


Entre as nuvens do amanhecer.


 


Em mim a dor


Que se despede numa deserta rua da cidade,


Em mim o abismo quando depeno uma flor


E com as suas pétalas construo a saudade,


 


Em mim deitado no caixão


E de braços cruzados,


E de mim acorda a solidão


Em mim pássaros pendurados…


 


O sol, incapaz de me amar,


Entre as nuvens do amanhecer.


 


E deus, feliz, contente…


De aos poucos me ver morrer.


 


 


 


Luís Fontinha


16 de Março de 2011


Alijó/Portugal


16.03.11

Aos poucos deixo de amar as palavras


E das frases levantam-se fantasmas,


Aos poucos nas palavras


O meu corpo começa a desfazer-se


 


E à minha volta apenas pó.


Aos poucos em mim


As palavras que eu tanto amava


Transformam-se em nada,


 


Simples coisas banais do dia-a-dia.


Aos poucos deixo de amar as palavras


E das frases levantam-se fantasmas,


E na minha mão cresce uma palmeira


 


Brinca uma gaivota junto ao mar,


E aos poucos eu sem palavras


Perdido nas páginas em branco da vida…


Que aos poucos acorda na escuridão.


 


 


 


Luís Fontinha


16 de Março de 2011


Alijó/Portugal


16.03.11

Do chão emerge a poeira depois da discussão que eu tive com o vento. Não podia aceitar de mão beijada as condições que ele me impunha, e a chuva estava do meu lado.


Eu sentado numa pedra ao abandono junto ao rio, ele soprando ferozmente em torno de mim, e a chuva encostada aos meus ombros, cabeça quieta, a choramingar, triste porque tinha acabado de bater com uma mãozinha numa nuvem,


- e eu triste,


Eu triste e ela é que chorava,


- mariquinhas, quem devia chorar era eu… agora só porque bateu com a mão de raspão numa nuvem…


- de raspão dizes tu, doeu como o caraças…


- coitadinha, que pena eu tenho,


O vento enfurecido,


- vocês os dois não se calam? Começo a ficar farto de vos ouvir,


Pronto, digo eu, não está cá quem falou.


E pronto nada. E eu triste.


E começo a sentir os grãos de areia nos dentes, e ao mesmo tempo que mexia a dentadura arrepiava-me como se estivesse dentro de uma tempestade, olhava para o rio e ele a descansar, quieto, e pensava cá para mim,


- então está bem, este em vez de correr para o mar, não, senta-se junto aos canaviais…, começa a ficar tudo louco,


E de tudo louco eu um pouco. E eu triste.


Começa a ficar tudo louco, e eu acabo de ser presenteado com os excrementos de uma garça mesmo no centro da minha cabecinha,


- que raio, ao ponto que eu cheguei…,


A chuva,


- é a tua decadência,


E quando até os pássaros fazem as suas necessidades sobre nós…, estamos prontos, é o fim,


- pois é chuvinha… e daqui a nada levas um pontapé no rabinho que vais parar à outra margem,


E a chuva cabisbaixa,


- e já agora porque discutiste com o vento?


Parvoíces…


O vento queria que eu voasse sem asas…


- só um louco é que diz uma coisa dessas,


Porquê?


- eu sou a chuva e voo sem asas…


 


 


 


(texto de ficção)


Luís Fontinha


16 de Março de 2011


15.03.11

Perdido pelas ruas da cidade


Escondo-me no néon que acaba de acordar


Sento-me no chão


Estendo a mão


E peço esmola a quem na rua vai passar…


Do nada faço cigarros e sem vaidade


 


Escrevo no pavimento


Preciso de viver,


 


Nem o vento


Me pode ajudar,


 


Nem o vento


Me pode valer.


 


 


 


Luís Fontinha


15 de Março de 2011


15.03.11

Quero desistir


Mas dentro de mim cresce o silêncio.


Quero desistir


Mas sou covarde,


E perco-me no oceano


A olhar as gaivotas.


 


Estou a zero vírgula zero um graus do chão


Mas ainda não caí,


 


Ainda me resta uma esperança


De aos poucos


Erguer-me dentro da neblina,


 


Conversar com as gaivotas


E olhar o pôr-do-sol.


 


Quero desistir


Mas dentro de mim cresce o silêncio,


 


E sinto-me sem forças…


Para desistir.


Continuar a caminhar.


 


 


 


Luís Fontinha


15 de Março de 2011


14.03.11

Chove.


Chove e no teu rosto as lágrimas


Do fim de tarde,


Quando os malmequeres


Se despedem do Sol,


E hoje não sol,


E hoje a chuva do teu rosto…


O sorriso das nuvens.


 


Chove.


 


Chove e dentro do meu corpo


Crescem algas multicolores,


Algumas feiinhas,


Outras… são uns amores.


 


Chove.


Chove e no teu rosto as lágrimas


Do fim de tarde,


E eu engolido pela tempestade


 


Que no centro do vortex


Olho as tuas lágrimas,


 


E sento-me junto ao rio


 


Chamando aos barcos; barcos.


 


E às lágrimas; lágrimas.


 


E à chuva; tristeza…


 


 


 


Luís Fontinha


14 de Março de 2011

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