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Cachimbo de Água

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...

Blog de Francisco Luís Fontinha; poeta, escritor, pintor...


31.03.11

Ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, tantos silêncios quando a tua mão poisar no meu olhar e com a minha mão afagar-te o sorriso, sim, o teu lindo sorriso, aquele, sabes, qual, o teu sorriso parvalhona, o sorriso com que acordas as gaivotas quando passeias junto à praia, ah…, vês como sabes, e as gaivotas de mãos nos bolsos a cumprimentarem-te com um simples bater de asas, ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, parvalhão, és muito parvo, traquina dos papagaios de papel, eu sei…, mas que te vou fazer cócegas, ai isso é que vou…


E vou libertar as tuas plantinhas prisioneiras na varanda, as minhas plantas, sim, as tuas plantas, e os teus cachimbos, que tem os meus cachimbos, os teus cachimbos não estão prisioneiros na estante junto aos livros, os meus cachimbos é diferente, pois é, são os teus cachimbos, miúda parva, parvalhão.


Ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, tantos silêncios quando a tua mão poisar no meu olhar e com a minha mão afagar-te o sorriso, e as gaivotas olham-te junto ao mar, e junto ao mar espetas pregos nas oliveiras, és muito parvalhão, e tu, eu o quê, tu és a menina dos pregos, a menina das oliveiras, a menina que tapa os buracos das paredes com pastilha elástica, és muito engraçadinho, pois sou, ai menina dos pregos…


Oh…


 


 


(texto de ficção)


FLRF


31 de Março de 2011


Alijó


31.03.11

Assassinam-me aos poucos


Espadas em mim


Vozes em silêncio


Lábios perdidos no amanhecer


Converso com as sombras do teu olhar


E no meu corpo habita um pesadelo


Um monstro sem cabeça


Com asas mas não sabe voar…


Está na prisão de uma mão


Do meu corpo também ele sem cabeça


 


Assassinam-me aos poucos


Os olhos que se agarram aos malmequeres


As andorinhas que sobrevoam a minha janela


Quando as espadas no meu peito


 


E o meu peito sangra


Geme quando se acende uma luz


Quando espadas em mim


Me assassinam aos poucos


 


Não sinto a dor


Deixei de ter dor


Sinto apenas o frio do aço


A escorregar nos meus braços


 


Amarrados ao cortinado


Assassinam-me aos poucos


Espadas em mim


Espadas com dentes


 


Espadas com olhos


Espadas com uma cabeça


Espadas humanas


Que à minha volta sorriem


 


E saltitam quando caminho na rua


Também ela entupida de espadas


Em mim


Que me assassinam aos poucos.


 


 


FLRF


31 de Março de 2011


Alijó


31.03.11

A cidade encerra as portas no crepúsculo da noite, uma janela semi-aberta deita-se sobre o mar, o soalho começa a ganhar vida, e na cidade alimento-me do sofrimento da maré, ao fundo da rua desço a calçada, meto no quelho da pensão, à porta, putas esperam por uma hora de carinho, meia hora paga a preço de ouro, é a única voz que oiço junto ao mar, e no cais um veleiro tenta engatar-me, começa a apalpar-me as pernas, eu frio na espinha, ele insiste, o meu corpo encolhe-se na água, emerge na noite, a cidade à minha espera, a cidade à espera dele, ele sozinho nas ruas desertas, um silêncio aproxima-se, e o jantar ficou na tarde de ontem, o veleiro quer-me, eu odeio-o, e apetece-me partir-lhe a cabeça, e ele sem cabeça à procura dos miúdos junto ao Tejo, o Tejo abandonou-me quando eu criança fumava cigarros nas suas margens, cigarros não, quando eu criança fuma charros nas suas margens, e sobre as minhas costas o comboio para Cascais. Eu sentado, eu olhando Almada, eu ao fundo da rua…


Deixei de ver o sol, deixei de olhar a lua, deixei de ver o sol das tardes junto ao Tejo, das saudades do meu corpo que ainda hoje deve passear-se junto ao rio, hoje eu sem corpo, hoje apenas ossos, um esqueleto suspenso em sofrimento, e ontem eu o sol, e ontem eu a lua, hoje não, hoje não nada.


A cidade encerra as portas no crepúsculo da noite, uma janela semi-aberta deita-se sobre o mar, o soalho começa a ganhar vida, e na cidade alimento-me do sofrimento da maré, ao fundo da rua desço a calçada, uma sombra a gritar-me, e eu a esconder-me nos braços do veleiro, tiram-me a cabeça, cortam-me as mãos, e eu sem cabeça, e eu sem mãos, eu apenas com braços nos braços do veleiro, o veleiro sorri, o veleiro quer-me na noite, e da noite uma roseira entala-se num plátano, o plátano em corrida acaba por tropeçar no néon das ruas, ao fundo da rua uma puta espera, desespera, e nas sombras sorri,


- vai uma voltinha, filho?


E a cidade encerra a janela, acenda a luz e se tiver sorte, se tiver sorte hoje tem jantar…


 


 


(texto de ficção)


FLRF


31 de Março de 2011


Alijó


31.03.11

Apenas tenho as estrelas para olhar


E sinto-me feliz por isso


Há pessoas que nem as estrelas conseguem cativar


E eu


Tenho estrelas para conversar


Estrelas para brincar


 


Tenho na noite estrelas para amar.


 


 


FLRF


31 de Março de 2011


Alijó


31.03.11

Sentado


À direita de um cachimbo


De água, (que sobre a minha secretária


Adormece, sonha e alimenta-se


Das minhas lágrimas nocturnas…)


Eu, senhor do infinitamente só,


Só nas noites de inverno,


Só para os amigos,


 


Eu… ser nada ninguém,


 


Sentado


Dispersamente na tua sombra


Que no delírio da madrugada,


Também ela só,


Também ela infinitamente só…


Se despede de mim!


 


E num jardim de lírios


Os nossos delírios…


 


As nossas mãos


Separadas pela escuridão do teu olhar,


O teu olhar que me deseja,


E me aprisiona às tarde de inverno,


A tua boca, um inferno,


Um silêncio de medo…


 


Eu… ser nada ninguém,


Infinitamente só,


Só para os amigos;


 


Sentado


À direita de um cachimbo de água!


 


 


Luís Fontinha


Alijó

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